O nosso património arquitetónico é único, estende-se por todo o nosso território geográfico e manifesta-se nas mais diversas formas. Foi assim que comecei o meu último artigo nesta Magazine e assim começo este artigo porque este mês falamos de duas expressões do nosso património.
A Arquitectura e o Cavalo Lusitano.
Relativamente ao património arquitetónico propõe-se hoje dar um maior enfoque à arquitectura ribatejana e na forma como cavalo a foi limitando e condicionando ao longo do tempo. O Ribatejo é a zona do cavalo Lusitano por excelência. Vimos no artigo anterior que o Ribatejo se divide em duas partes, a primeira mais a norte onde encontramos diversas propriedades denominadas de quintas e na zona mais a sul onde a dimensão, o relevo e estilo de culturas e do montado nos levam à denominação de herdades.
Quanto à Arquitetura ligada ao tema do cavalo podemos encontrar 4 tipos:
1. As Quintas
2. As Herdades
3. As Casas com Pátio
4. Os Picadeiros
Nas Quintas e nas Herdades é comum haver, o que habitualmente se chama de cavalos a campo, que são um leque de cavalos que estão na propriedade com a finalidade de se reproduzirem, são na maioria cavalos que não estão ensinados e cujos recursos construídos afectos à sua utilização são muito reduzidos. Poderá haver um abrigo ou um barracão que os acolhem em dias de maior intempérie ou caso haja a necessidade de recolher alguma égua com a sua cria. Se pensarmos nos cavalos de ensino, para equitação, para toureio ou simplesmente passeio ou atrelagem a situação é completamente diferente. Nestes casos é necessário criar-se um conjunto de infraestruturas de suporte para a sua estadia, para a sua higiene e para o seu trabalho. É por isso comum encontrarem-se neste tipo de propriedades onde existem cavalos para montar os seguintes equipamentos e compartimentos:
Boxes - as boxes podem ser individuais ou colectivas (baias) onde os cavalos permanecem e vivem. São compartimentos, alguns deles com saída directa para rua, ou em alternativa para um corredor central de um edifício destinado a este efeito. São os espaços onde os cavalos estão, vivem, descansam, se alimentam e se hidratam. São geralmente compartimentos com 3mx3m com um comedor e bebedouro;
Zona de Banho e zona de aparelhar o cavalo – É geralmente uma zona externa onde se dá banho aos cavalos depois do seu exercício, mas é também a zona onde se prepara o cavalo para ser montado, se coloca a cabeçada no cavalo, se coloca o arreio e todo o equipamento que cada cavalo precisar para o exercício que vai executar. É o que se chama de aparelhar o cavalo.
Sala dos Arreios - Na sala dos arreios é o lugar onde se guarda todo o equipamento: arreios, selas, cabeçadas etc.
Armazém – Onde se guarda a ração, o feno para camas e para a alimentação e todo o equipamento necessário para a manutenção das boxes e picadeiro. (carrinhos de mão, forquilhas, etc.)
Picadeiro – O Picadeiro pode ser interno ou externo. O mais comum é encontrarmos picadeiros exteriores, mas sempre que possível é bom que haja picadeiros interiores para que o clima não comprometa a prática de exercício para cavalo e cavaleiro.
Existem outros elementos que se podem encontrar conforme o tipo de prática que os cavaleiros pretendem exercitar.
Tentadero – É muito comum encontrarmos este equipamento em casa de criadores de toiros bravos ou de cavaleiros tauromáquicos. São equipamentos que servem para avaliar a bravura do gado no caso dos criadores de toiros e no caso dos cavaleiros tauromáquicos, serve para treinarem e ensaiarem as suas lides. Os tentaderos são equipamentos de planta circular, com dimensões diversas e que geralmente têm entradas independentes para cavalos e para as vacas ou bezerros. Geralmente são rodeados de borladeros, que são uns elementos de madeira, que servem de proteção para em caso de emergência qualquer pessoa se possa esconder.
Hipoterapia - Não é tão comum, mas já há algumas propriedades de criadores mais importantes que têm este tipo de equipamento com um tanque onde os cavalos se podem exercitar e recuperar de alguma lesão.
Atualmente é usual a visita do ferrador a casa para tratar dos cavalos, mas houve uma época em que as propriedades tinham o seu próprio forno de forja para ser usado quando necessário. Em algumas propriedades é possível encontrar uma zona de bancada ou de estar com lareira junto aos picadeiros que servia para que os criadores recebessem os seus clientes ou convidados para lhes apresentar os seus cavalos e estes pudessem apreciar as qualidades dos seus andamentos.
Existem outros elementos que se podem encontrar conforme o tipo de prática que os cavaleiros pretendem exercitar.
O tipo de arquitectura usado em todas estas construções geralmente segue a mesma linha arquitetónica da restante propriedade. São tipos de construções de arquitectura tradicional, cobertura de duas águas, e uma barra de cor no soco e a emoldurar as portas e janelas. As casas com pátio para cavalos Este tipo de casas podemos encontrar com grande facilidade na Golegã, Capital Nacional do Cavalo.
A Golegã é uma vila que tem preservado muito bem a sua arquitectura. É uma vila típica desta zona do ribatejo, com uma arquitectura tradicional e cores típicas e edifícios que na sua maioria não ultrapassam os 3 pisos. Ao contrário de outras vilas e cidades nacionais, na Golegã o convívio a cavalo fazse durante todo o ano, uma das principais praças é um picadeiro descoberto onde se vê quotidianamente alguém a montar a cavalo ou a passear de carro de cavalos.
Neste caso não é necessário ter o equipamento completo para a prática desta modalidade, basta ter na sua casa um espaço onde o cavalo possa estar. Surgem desta forma as casas com pátio. No fundo cria-se um anexo na casa onde se constroem as boxes, e se cria todo o armazenamento necessário para o equipamento. Há exemplos muito interessantes de pátios muito bem concebidos e cuja arquitectura se articula na perfeição com a arquitectura da casa mãe. Este tipo de pátios nasce da necessidade de muitos criadores quererem ter um espaço em casa para ter os cavalos que iam negociar, ou os exemplares de excelência da sua Coudelaria. São por isso na sua origem espaços para receber pessoas e muito bem cuidados e integrados na casa principal.
Não se consegue dizer que há uma dimensão própria para estes pátios uma vez que usam o espaço que têm disponivel. E quanto à apropriação do próprio espaço é comum encontrarmos espaços onde os cavalos se dispõem em baias assim como é possível encontrarmos diversas boxes. Depende muito do espaço disponivel e da filosofia do proprietário. Na zona de malha urbana mais consolidada é muito fácil distinguir estas casas com pátio pelas dimensões do seu portão. Durante a Feira Nacional do Cavalo esta zona comercial passava para o Largo do Arneiro onde cada criador tinha a sua caseta, cada uma com a sua arquitectura, contudo todas elas com um espaço para estar ladeado pelo espaço onde os cavalos estão em apresentação. Durante estas feiras as casas com pátio são um activo imobiliário interessante porque permitem o aluguer das boxes disponíveis com um retorno financeiro considerável.
Picadeiros
Os Picadeiros referidos neste ponto são os picadeiros como equipamento urbano e não como construção rural. São geralmente edifícios ou complexos de edifícios imponentes na sua dimensão. Os edifícios principais de planta retangular e pé direito elevado. Recordemos por exemplo o antigo Museu dos Coches, antigo picadeiro Real.
Os Picadeiros são locais de ensino e treino por excelência e é possível encontrar pelo país, alguns edifícios apenas com este objetivo. Uma das componentes da equitação é o ensino e muito do trabalho é feito nestes edifícios. Aqui se ensina, se treina e se apresentam os cavalos e alguns andamentos ou ares altos ou algumas coreografias de conjunto. É por isso necessário que estes picadeiros tenham uma zona de bancada pois é comum que estas apresentações tenham publico.
Vejamos o exemplo da Escola Portuguesa de Arte Equestre. Como disse anteriormente para alem do edifício principal os picadeiros são um complexo de edifícios. Aqui vamos encontrar o edifício das boxes, a sala dos arreios, uma zona administrativa, um gabinete veterinário e um picadeiro exterior ou espaço para os cavaleiros “desenrolarem as suas montadas” em dia de apresentação.
Conclui-se com esta breve apresentação que há de facto um cruzamento muito interessante entre a nossa arquitectura tradicional e a cultura equestre. Há uma inequívoca evolução do nosso património construído que deriva da influência do nosso outro património que é o cavalo, em particular o cavalo lusitano. A nossa cultura arquitetónica evoluiu e desenvolveu-se para dar resposta a este sector.
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