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Reabilitar - Recuperar – Reciclar



As Férias são um momento de família ideal para se tomarem grandes decisões aproveitando o tempo em família para se criarem desafios e promoverem mudanças para o novo ano que se prepara. A nossa casa é sempre um tema presente, ou porque um dos nossos filhos vai mudar de ciclo escolar e precisa de adaptar o quarto, ou porque queremos dar um novo ambiente à casa ou porque se viveu fora do país e aqui se volta e se encontra uma casa a precisar de alterações, ou porque simplesmente se quer dar um pequeno toque de mudança que dê um novo alento ao novo ano de trabalho que aí vem.

No artigo de hoje falamos dos vários tipos de operação que podemos fazer em nossa casa e que lhe produzem mudança. Estas operações têm várias escalas de intervenção.

A Reabilitação será o grau mais profundo pois reabilitar significa voltar a habilitar, voltar a habilitar a um determinado uso, a um determinado contexto, poderá ser um regresso às origens garantindo a autenticidade histórica do imóvel ou uma evolução do seu uso, ou da sua história. Dar ou devolver a vida ao seu imóvel.

A reabilitação de um imóvel ou apartamento passa por alguns passos importantes. As casas são máquinas habitadas, neste sentido é importante que tudo funcione corretamente e sobretudo que não se perca dinheiro em obras inconsequentes, ou seja, não é desejável que após a conclusão das obras e do dinheiro investido as infraestruturas precisem de intervenção, que implicaria milhares de Euros em perdas na abertura de paredes e novos revestimentos. Ou que de repente o telhado comece a deixar passar água. Aconselha-se por isso que antes de tudo se faça uma análise ao estado em que se encontram as infraestruturas técnicas, Água, Eletricidade, gás, aquecimento, esgotos e outras especialidades que possam estar a funcionar na casa. Em simultâneo é igualmente importante, olhar para a estrutura. Há sinais que podem denunciar falhas ou adulterações na estrutura ou patologias que denunciem que está danificada. Logo de seguida devemos analisar o estado de conservação da cobertura, das caleiras, algerozes e impermeabilizações.

O passo seguinte que aconselho aos meus clientes é olharmos para a eficiência energética, caixilhos e isolamentos e sistemas de protecção solar e climatização activos e passivos. Por fim depois de todos os problemas identificados nos temas referidos acima estamos em condições para começar o projecto, garantido que a prioridade no Budget vai para a resolução de problemas de funcionamento e que os problemas mais graves de futuro estão prevenidos. A estrutura aguenta, as infraestruturas vão funcionar, entradas de águas da chuva estão evitadas e a eficiência energética está garantida. Sabemos agora que Budget temos para as alterações que se querem implementar na casa ao nível de layout, revestimentos e mobiliário.

Os processos de Reabilitação implicam geralmente o desenvolvimento de projectos de alterações na Câmara Municipal onde o imóvel se encontra, pois são processos que facilmente promovem ajustes estruturais e/ou alterações de fachada.

Mais simples são os processos de Recuperação.

Recuperar significa devolver a vitalidade de outros tempos ao imóvel. Geralmente não há mudança de uso, e são operações menos interventivas na medida em que se promove em primeiro lugar a resolução de problemas.

São intervenções mais simples, contudo não nos isentam de percorrer o mesmo processo de avaliação do construído que seguimos na reabilitação.

Ao recuperar uma casa-de-banho que sofreu uma infiltração grave deve avaliar o estado em que se encontram todas as infraestruturas técnicas sob pena de depois de intervencionada e colocados os novos revestimentos e equipamentos surgir outro problema que promova nova intervenção perdendo todo o capital investido na intervenção anterior.

É muito importante planificar e contar com uma equipa de profissionais que o possam ajudar a tomar as decisões certas.

Considera-se também recuperação à mudança de alguns revestimentos que podem estar envelhecidos ou danificados, nova pintura, etc.

O conceito de Recuperar pode ir mais fundo.

Se pensarmos num edifício patrimonial como um convento por exemplo e na sua transformação em Hotel passamos por uma primeira etapa de privilegiar a recuperação do património passando por uma segunda fase reabilitar na medida em que se pretende dar-lhe uma nova vida, ou seja voltarmos a habilitar, mas neste caso a hotel.

Se pensar recuperar o seu apartamento ou casa eu aconselharia a fazer em primeiro lugar um checklist de tudo o que se deve verificar seguido de tudo o que se pretende fazer ao nível de intervenção.

Por exemplo: Eu quero recuperar o barracão que tenho jardim porque gostava de fazer um ginásio separado da casa.

1. Em que estado está o barracão?
2. Tem infraestruturas?
3. Como está a cobertura?
4. As impermeabilizações e Isolamentos existem? Estão em bom estado?
5. O Barracão já tem casa de banho? Ou tenho que fazer uma? Há esgoto?

Poderíamos considerar esta operação como uma reabilitação, mas fazer a obra de um barracão que já por si deve funcionar em Open Space e poderá ou não ter já uma casa de banho cabe perfeitamente no conceito da recuperação, porque basicamente o queremos é recuperar a estrutura existente.

Passemos ao último conceito, a reciclagem.

O que é Reciclagem em Arquitectura e como transpomos para o espaço este conceito?

Reconheço o mérito de muitos arquitectos e decoradores que hoje privilegiam com qualidade este tipo de reciclagem.

Sem querer entrar muito neste campo da decoração que para além de não dominar tem um espaço próprio nesta newsletter, ficam um conjunto de ideias fáceis de visualizar para ajudar na reflexão de todos.

Imagine que uma porta antiga bonita pode ser uma boa cabeceira de cama, uma máquina de costura da Singer pode ser um aparador ou uma mesa de apoio, um conjunto de portadas pode ser um biombo, uma caixa de chapéus antiga em chapa pode virar um candeeiro, um manequim pode ser um cabide e porque não pode um tacho transformar-se num lavatório e uma taça num candeeiro de tecto?

Em recuperação e em reabilitação surgem muitas oportunidades para dar uma vida nova a elementos da casa que usamos no nosso dia-a-dia e que podem mudar completamente um espaço.

Nas demolições encontram-se verdadeiras preciosidades, quer ao nível de revestimentos quer ao nível de elementos arquitectonicos que podem fazer a diferença num projecto de arquitectura.

As portas antigas podem fazer o contraponto de uma arquitectura moderna com um apontamento clássico e colocadas num sistema de correr funcionando como um painel movel que dá vida a um determinado ambiente.

Procuro por acaso para um projecto que tenho a decorrer uma janela de guilhotina antiga para fazer um passa-pratos para a cozinha de uma cliente que quer um apontamento diferente na articulação com a casa de jantar.

Lembro outro cliente usou uma grande laje de pedra que descobriu dentro de uma parede como guarda de um duche, nessa casa já tinha a bancada de pedra antiga da cozinha com o lava-loiças incorporado também em pedra como bancada na casa-de-banho social.

Ao nível dos revestimentos podemos também reciclar. Uma cliente que tive tinha uma casa com uns azulejos extraordinários, infelizmente alguns painéis tinham caído com o tempo quando ficou com a casa e os azulejos estavam em bocados mínimos, mas eram de facto muito bonitos e com cores ímpares. Experimentou aplicar estes bocados mínimos numa parede de forma aleatória e desordenada com um resultado único.

Outros exemplos: As cantarias de Pedra fazem umas escadas extraordinárias.

As Madeiras das linhas de comboio fazem muros de contenção únicos e resistentes, uma guarda antiga de uma escada ou de uma varanda pode criar um apontamento diferente. As asnas de madeira se estiverem em bom estado podem marcar a diferença no tecto de uma sala. Há quem utilize na construção telhas antigas para dar um melhor enquadramento das casas em centros históricos. E porque não usar as pedras de uma chaminé de cozinha como pórtico de passagem numa casa?

O limite da Reciclagem em Arquitectura é infinito e está preso por três factores.

1. Quando não temos o objecto, temos que encontrar o objeto certo a aplicar;
2. A Linguagem da casa onde vamos aplicar funcionar com este tipo de operação;
3. A Qualidade da solução a desenvolver.



Salvador Morais | in TGP Magazine

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