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Preservar o nosso património edificado

A preservação do património construído é uma responsabilidade que nos cabe a nós, arquitectos, e que nos conduz a uma linha de pensamento muito especial.



Património construído não se trata apenas de edifícios históricos com também de todo o tipo de herança que nos permite reviver uma determinada época ou momento das nossas cidades.

Em Portugal temos muitos edifícios que consideramos ter um valor patrimonial, não por fazerem parte da nossa história, mas porque nos permitem reconstruir ou pela sua singularidade, grau de preservação ou pelo conjunto edificado como se viveu, e como o homem se apoderou de parte das nossas cidades, vilas ou até mesmo do mundo rural.





O que difere um projecto de Arquitectura de Raiz de um projecto de reabilitação?


Na minha forma de pensar a arquitectura privilégio sempre a função, o espaço tem de funcionar servir um propósito e o seu utilizador.

Quando trabalhamos com património construído trabalhamos com uma estrutura que já tem o seu ADN e a sua essência.

A palavra reabilitar antecipa o conceito. Re + habilitar, ou seja, voltar a habilitar. E voltar a habilitar passa exactamente por devolver a uma casa ou um edifício a função para a qual foi pensado o que muitas vezes implica adaptá-lo e modernizar a sua forma de o viver.



Mas devemos pensar que o edifício fica intacto limpando apenas as paredes e verificando se as infraestruturas funcionam?


Do meu ponto de vista não. O problema é na realidade muito mais profundo. Exige experiência, know how, conhecimento e a aplicação de estratégias que não se aprendem na universidade e que resultam da prática da actividade de arquitecto em edifícios com estas particularidades com muita experimentação. Vamos olhar para o problema de forma prática.

Pegar num edifício pombalino para o reabilitar e devolvê-lo ao mercado passa por um processo em que temos de dividir o que consideramos a sua essência e génese patrimonial e a sua essência e génese espacial.

O que é isto? É simples. O edifício foi pensado para responder à forma de se viver no sec. XVIII. Toda a sua génese espacial respeita o Modus Vivendi próprio da época e que era diferente consoante o publico alvo para quem o edifício era construído. Quanto mais alta era a classe social para quem o edifício era construído maiores eram as áreas uteis das zonas sociais e as áreas de serviço que o edifício possuía.


O que se pergunta? Faz sentido preservar hoje a forma de viver como no Séc. XVIII? A resposta é clara, claro que não, temos que transformar as casas de forma a garantir um modo de nos apoderarmos do espaço de forma actual e funcional.




Ou seja, a génese espacial deve ser reajustada e adaptada.

Contudo sendo claro que o edifício ou o apartamento pode e deve ser adaptado quanto a forma de receber o seu programa, também deve para nós arquitectos ter claro que isto não pode acontecer de qualquer forma.

E aqui entramos no que chamo de génese patrimonial.

E o que é a génese Patrimonial?


Génese patrimonial é tudo o que lhe confere uma autenticidade histórica, o que o torna singular e o que permite manter a essência do património construído.

É por isso que a Direcção Geral de Patrimonio e Cultura em Portugal é tão exigente com a preservação de sistemas construtivos, estuques, carpintarias e tudo o que caracteriza cada edifício como por exemplo a ornamentação. Estes elementos quando bem preservados permitem localizar o edifício na história e no tempo. Recorda-nos da nossa herança. Por exemplo um painel de azulejos bem preservado dá-nos várias informações sobre o imóvel ou sobre o espaço. Um lambrim de azulejos monocromático em azul e branco em contraste com um lambrim de azulejos colorido pode indicar que o primeiro espaço era um espaço secundário ou que o utilizador do primeiro espaço era menos nobre do que o utilizador do segundo. Dá-nos informação da época em que o edifício foi construído e muitas vezes sobre quem viveu no edifício.


O mesmo se passa com os estuques. Neste capítulo temos tectos magníficos com moldados de estuque muito ornamentados de valor patrimonial incalculável ou moldados de estuque nas paredes cuja preservação permite um enquadramento perfeito do contexto socio-cultural em que o edifício foi construído.


A manutenção dos sistemas construtivos também é muito importante e neste campo não apenas por uma questão de preservação de património, mas sobretudo por preservação da segurança dos imoveis em caso de sismo.


Um edifício que seja regular quanto aos sistemas construtivos permite ter uma reacção controlável em caso de sismo, mas um edifício que na sua essência tenha uma estrutura de madeira e que ao longo dos anos tenha sofrido alterações com recurso a reforços em betão, aço e/ou ferro de forma indiscriminada ao longo dos seus pisos e consoante a época da sua adaptação torna-se um edifício perigoso pois no momento do sismo ira reagir de forma diferente e terá uma rotura estrutural mais severa e descontrolada.


A MBM Company está neste momento a desenvolver diversos projectos de reabilitação em Portugal e a nossa preocupação é exactamente garantir que a forma de viver dentro destes edifícios é condizente com a forma de nos apropriarmos do espaço nos dias de hoje, mas que essa operação permita manter o que é a nossa essência patrimonial.


Que Skills mudam relativamente a um arquitecto que se dedica apenas a construção nova?


O que muda é simples, temos que ser profundos conhecedores dos sistemas construtivos que se foram desenvolvendo em Portugal, ter um conhecimento histórico que nos permita garantir que o que está no imóvel é essencial para a manutenção do seu valor patrimonial, muitas casas foram intervencionadas ao longo dos tempos e têm por isso elementos dissonantes que não contribuem para verdade do imóvel. Temos que distinguir se elementos são dissonantes e devem ser eliminados ou se de alguma forma devem ser mantidos por fazerem parte da história do edifício e que essa diferença os torna mais singulares.


Depois começa o nosso desafio pois temos que saber e avaliar muito bem a forma de viver dos nossos clientes de forma a começarmos a construir um plano de intervenção que tenha por base o respeito pelo património e que o conjugue de forma eficiente e eficaz com a forma de viver de quem vai habitar o espaço.


Se me perguntarem se a base patrimonial condiciona numa pergunta de sim ou não a minha resposta tem de ser afirmativa, mas a pergunta é muito redutora, pois a nossa experiência permite olhar para a peça patrimonial como uma base de trabalho, não como um resultado final. A Arquitectura é um patrimonio vivo, deve evoluir com o tempo e há estratégias que desenvolvemos com o tempo que nos permite tirar partido da peça patrimonial, dando-lhe uma nova vida.


E aqui entramos no que nos diverte e no que nos motiva neste tipo de intervenções. A arte de colocar o antigo a coabitar com o novo.


A introdução de novos materiais e materiais modernos não está vedado na reabilitação. Antes pelo contrário a introdução de novos materiais ajuda a garantir a autenticidade histórica da intervenção. Permite criar uma linha clarissima entre o que foi salvaguardado como patrimonio e o que foi intervencionado, para além de melhorar a experiência de habitar hoje. Ou seja, daqui a 50 anos se alguém resolver estudar o edifício facilmente enquadra em cada uma das suas épocas cada momento da sua intervenção.


Construir no que se encontra construído é um desafio, o que pode parecer um exercício pesado pela quantidade de condicionantes que apresente, passa a ser um exercício deslumbrante se visto com seriedade e usando a experiência adquiridas ao longo dos anos.


Se quiser reabilitar uma propriedade em Portugal ou noutro país tem a sua disposição a experiência e o expertise da MBM company e dos seus parceiros.



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