A construção de casas de um só piso é um desafio interessante com vantagens na acessibilidade e no custo, quer na economia de construção, manutenção e climatização. Se olharmos para a nossa arquitetura tradicional encontramos a casa térrea a sul de Portugal, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Aqui encontramos alguns exemplos que têm perdurado ao longo dos anos e muito próprios de cada região. Durante as férias revisitamos estas casas para períodos de lazer e descanso, mas cada uma destas casas encontra a sua origem no estilo de vida e arquitectura local.
Temos exemplos muito específicos e que se transformaram nos ex-libris das suas regiões como a cabana do Sado, que encontrou a sua variação natural e caraterística na zona da Comporta com cobertura e revestimento em colmo, assim como a casa típica alentejana que se tornou mais comum como a casa de barra e um só piso.
Dentro da arquitectura moderna também é nestas zonas do País que encontramos as casas térreas. A razão prende-se sobretudo porque para conseguirmos uma casa térrea com a dimensão que se pretende é necessário ter um terreno adequado quer ao nível da sua dimensão quer ao nível da sua topografia.
O terreno tem que permitir quer do ponto de vista legal, quer do ponto de vista funcional desenhar uma casa que se articule correctamente e que se desenvolva cumprindo os requisitos do programa definido. O terreno deve ser mais plano, de forma a que a casa não tenha que assumir grandes mudanças de cota no diálogo que promove com o terreno. Pensar a casa térrea tem alguns aspectos específicos na sua forma de ser projectada.
O Organograma funcional tem que se organizar dentro de um único piso. Dentro deste organograma deve ficar claro quais são as zonas sociais, as zonas privadas e as zonas de serviço e como se articulam entre si através de corredores, hall’s passagens etc. A articulação com o exterior ganha também algum peso uma vez que as zonas externas de lazer devem confrontar directamente com as zonas sociais e a zona dos quartos deve ligar-se a zonas mais calmas no exterior. Conforme o estilo de uso de cada família a casa pode adaptar-se contudo aconselha-se que a casa se deve orientar de acordo com luz e o posicionamento do sol.
Tradicionalmente viram-se para Sul e Poente as Áreas sociais, para nascente as zonas dos quartos e para Norte as áreas de serviço, como a cozinha, a lavandaria etc. É contudo admissível que a casa ganhe outra disposição conforme o uso e a pretensão dos seus proprietários, factor que clarificamos e definimos na fase de projecto para que a casa funcione para quem a habita. Do ponto de vista pratico da construção encontramos algumas diferenças entre a casa térrea e as casas de múltiplos pisos.
A estrutura das casas térreas pode ser mais aligeirada e mais simples na medida em que apenas tem que lidar com o peso próprio da sua cobertura ou algum terraço que se pense sobre a casa. Este dado permite uma escolha de materiais mais abrangente e tirar partido da própria estrutura da cobertura para dar mais pé direito às divisões interiores.
Facilita também a abertura de vãos maiores e uma optimização e liberdade da localização das peças estruturais na medida em que não há projecção da mesma para pisos superiores ou inferiores. A casa térrea traz grandes vantagens no ponto de vista do seu uso. Do ponto de vista das acessibilidades é um tipo de casa que facilita a sua circulação por toda a sua area útil, por exemplo, para uma pessoa com mobilidade reduzida. Do ponto de vista da climatização é uma casa que lida mais facilmente com os diversos sistemas de aquecimento e arrefecimento, pois há uma redução de perdas pelas circulações verticais.
As casas térreas permitem criar uma fluidez de espaços com bastante facilidade. O jogo de paredes permite uma relação controlada entre os espaços que se pretendem encerrar, e abrir e o facto de todos os espaços funcionarem à mesma cota, ou em cotas aproximadas, o que facilita este jogo de diálogo entre as várias peças do puzzle.
É muito comum nas casas térreas que o espaço exterior funcione como uma extensão do espaço interior, e ser mais um elemento de articulação entre os vários momentos da casa.
Como resumo podemos dizer que as casas térreas têm como pontos fortes de interesse:
Maior liberdade de desenho da estrutura que se reflete numa maior liberdade de desenho do espaço interior;
Maior liberdade de movimentos na medida em que facilita a sua acessibilidade por tudo se organizar na mesma cota;
Maior relação com o espaço exterior, resultado de todos os espaços poderem comunicar directamente com o exterior;
Abertura de vãos com maior dimensão;
Maior economia de construção;
Construção mais simples e mais rápida;
Facilidade na climatização e controlo de custos de manutenção.
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